segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Uma breve visita à "cinquentésima" quinta Feira do Livro de Porto Alegre

Todo o mês de outubro é deveras agradável. Pelo feriado? Não, pela Feira do Livro de Porto Alegre. Todo o fim-de-ano tem-se a garantia de que a leitura nas férias será proveitosa. Além disso, a Praça da Alfândega se torna muito mais agradável com a presença da feira - convenhamos: a reputação da praça tem decaído. Quando se começa a andar por aqueles corredores, de banca em banca, prestando atenção aos livros, é inevitável que se perca a orientação: já passei por aqui? Os nomes das bancas me dizem as respostas, nunca presto atenção às indicações dos corredores; livros. Só vejo livros. No pensamento? Algum título que me atraia; na minha frente, muitos! Todos os tamanhos, cores, formatos, etcetera. Alguns acabam despetando o interesse pelo tema em si - gosto é gosto, né? - porém outros se destacam pelos títulos, no mínimo, curiosos: Como sobreviver a 2012? Essa temática é a pedida do ano, já que vai sair a megaprodução enlatada estadunidense (eu presumo); Por que os homens amam as mulheres poderosas? Essa eu realmente n sei. Amam? Um leão por dia, da Vera Fischer; (ironia) deve ser interessantíssimo esse (/ironia); Guia prático do Português correto: sem cometários; Os mortos nos observam tomando banho? Mais uma pergunta infame; também não sei a resposta; Como fazer amigos e influenciar pessoas; deve ter vendido bem esse; Dicionário Lula, um dicionario dedicado ao léxico do nosso presidente; não imagino que tenha vendido muito, já que tá na moda falar mal do Luís Inácio, não é mesmo? Quem pensa, enriquece, simples assim; finalmente, Sexo para mulheres casadas, afinal, elas merecem, não é? Esses são alguns dos títulos que mais me atraíram e que eu não comprei. Quanto aos que comprei, ah! Como não notar aquele exemplar de capa preta, com o senhor Jimmy Page e sua Danelectro na capa? Led Zeppelin: quando os gigantes andavam sobre a terra, de Mick Wall: a mais completa e detalhada história do chumbão, segundo a crítica, trabalho de anos, 527 páginas, irresistível para um fã; John Lennon, a vida, de Philip Norman. Mais uma novidade e mais uma biografia do John, completíssima - supostamente - 839 páginas; Cuentos memorables según Jorge Luis Borges, coletânea dos contos favoritos do escritor porteño, incluindo algumas traduções dele mesmo (incluindo Edgar A. Poe e Guy de Maupassant); fui picado pelo mosquito Borgeano, não tem mais volta; e fechando o fardo, um saldinho né? Paraísos Artificiais - o Ópio e Poema ao Haxixe, de Charles Baudelaire - por 7 reais, hein? Que maravilha. Nessas horas não ha como não ser decladaramente consumista. Como a grana é pouca - e o tempo também - o investimento tem de ser planejado com cuidado. Imagino que com esses exemplares eu tenha um pouco de tranquilidade garantida por um tempo.
Agora falando do que eu não gostei na feira. Despreparo do pessoal da maioria das bancas. Isso não é novidade, não é? A incompetência se mostra presente em todo o lado, praticamente, não apenas na feira. Perguntei muitas vezes se havia - por algum acaso, por que não? - A invenção da Modernidade, do Baudelaire. Muitos me respondiam que não instantaneamente: ou é muito procurado, havia muitos exemplares e vendeu-se tudo antes da minha chegada, ou a pessoa não fazia a mínima idéia do que eu estava falando, (ironia) de repente falei em outra língua (/ironia). Não éculpa deles não ter o livro que eu procuro, porém pecam na hora do atendimento, quando não mostram interesse "pelo meu interesse". Estamos na era da informação, vivemos cercados de bugigangas que nos permitem o acúmulo e a transmissão de informações: será que nesses tempos não há um banco de dados - um maldito computador, falando sem rodeios - que possa ser consultado? Como é que o cidadão ali lida com as vendas? Com o estoque? Usa uma caderneta? Acho que em UMA banca tinha um laptop. Nas outras eu não vi, de repente houvesse mais. Parece que as pessoas estão lá vendendo peixe, ou qualquer outra coisa... "o peixe tá aí, é pegar ou largar... o quilo custa tanto". Não achei o tal livro. Mas perguntei, ô se perguntei. Pelo menos dei sorte e achei aquele no saldo, comprei na banca do cara do Beco dos Livros, ali da General Câmara, se não me engano - o sujeito tem a base do negócio!
Além das novas aquisições e dos títulos jocosos, a feira me proporcionou descanso, embora tenha chego ao fim da tarde e andado sem parar pelos corredores, me desliguei um pouco da vida real, das pressões, dos cronogramas, das frustrações cotidianas, do cansaço; a feira do livro é terápica, é um mundo de possibilidades, sendo bem lugar-comum, que faz a gente esquecer a correria. Ano que vem tem mais. Esperemos, pois.