quarta-feira, 2 de junho de 2010

Palestina livre...

Morei na fronteira do Rio Grande sulista quando criança. Sant´Ana do Livramento, precisamente. Lá eu andava pelas ruas e algo me chamava a atenção: uma frase escrita em um muro na esquina do apartamento onde eu morava, Palestina livre. Que significava isso? O quê significa isso? Descobri hoje. Em outro muro, não lembro onde, tinha outra frase semelhante: Palestina liberta. Não coincidentemente, havia, como há até hoje, diversas famílias "árabes" - entre aspas porque isso não diz muito, né? - enfim, famílias do Oriente Médio; o povo da fronteira chama-os de "turcos", que possuem as "lojas de turco", tão conhecidas na cidade e imediações. Vários amigos meus eram filhos desses lojistas, e, na qualidade de amigos, frequentávamos as casas uns dos outros. Visitar qualquer um desses amigos "turcos" era uma viagem no tempo. A presença da cultura Oriental impregnada pelas paredes, nas roupas, no agir, no falar, tudo tão diferente do entorno, diferente da Fronteira da Paz, onde se fala o portunhol e se passa uma manada de bisontes pela fronteira imaginária sem que nada aconteça. As mães e irmãs com a cabeça coberta, o sotaque carregado do Português fronteiriço (será que já catalogaram essa variante?) e a hospitalidade calorosa; deve haver uma outra coisa que eu deixei de fora, mas em síntese, tudo isso pra contextualizar a minha relação com a Palestina - direta pelo convivio com meus amigos descendentes e indireta através do fenômeno midiático que foi o ataque aos barcos que levavam suprimentos à faixa de Gaza, nesta semana .
O estado de Israel foi criado por um Gaúcho - sim, vou contextualizar de novo! - Oswald´aranha, nome do prédio em que resido no presente momento. Poderia adicionar mais alguns atributos ao senhor Aranho: maçon, alegretense (como eu) e "metido", entre aspas porque os primeiros são fatos e o último é a minha opinião, que não é absoluta. Foi lá um gaúcho e criou o estado de Israel. Pronto. História feita em escritório, manja? Foi lá, deu um canetaço e agora toda essa merda. Os judeus, povo escolhido pelo todo do Cristianismo, com a ajuda de um órgao internacional que não presta pra nada, só pra fazer cena, contaram com a ajuda do referido senhor pra criar um estado opressor, incentivando uma briga milenar. Israel, com o apoio dos ee uu, pressiona os palestinos - que têm o apoio de países vizinhos, usam armamentos russos arcaicos e estão sempre "se bicando", querando seu estado, sua independência. Palestina livre, agora tudo faz sentido. Acabei de perder a inspiração para continuar... só queria saber o que vai acontecer daqui pra frente.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Que saudade de ti, minha velha;
da tua companhia;
do teu abraço;
do teu bolo;
da tua sabedoria.
Daquelas conversas longas
sem hora pra acabar,
por vezes inconclusivas;
pra que concluir?
-
Saudade das tuas histórias,
histórias daquele tempo,
de vários tempos...
histórias e estórias, não?
De Malazartes,
de portas verdes,
até d´A Bela e a Fera!
Quem precisa dos studios Disney?
Hoje ninguém me conta coisa alguma
a não ser obviedades e absurdos
rotulados como "opiniões".
Saudade das tuas opiniões.
-
Tanta coisa pra gente falar;
As declinações do Latim,
Literatura,
Poesia,
tanta coisa;
quem sabe tudo isso
acompanhado por uma pêra?
Ou um mate,
pra que o tempo demore a passar
e, de repente,
seja a hora do almoço...
saudade do teu almoço.
Saudade da tua rima premiada:
forma e conteúdo.
eu não sei rimar,
"isto não é um poema,
é saudade";
ou plágio,
desculpa.
-
Drummond crônica, conto
ou poesia?
Graciliano e Rosa?
Ah, o Érico!
Jorge Amado não, né?
Neruda, pero en Español.
Modernismo não?
Parnasianismo sim?
Se não souber,
tem na Barsa.
Tanta coisa pra te perguntar,
tantas coisas,
coisas.
Vó, não consigo rimar.

Ps.: Na pós-modernidade qualquer um brinca de C.D.A.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Amor de mãe

Versão digital do texto escrito de próprio punho pra minha mãe.


O ser humano é o único ser que tem capacidade de refletir sobre a realidade, sobre a própria existência. "O que é real? Como percebemos a realidade ou irrealidade das coisas que nos cercam?", e os questionamentos não param por aí: "qual o sentido da vida?" - imagino que essa indagação "atesta" nosso estado de "ser humano", uma vez que as outras espécies não fazem o mesmo.
O tal "sentido da vida" parece não ser um assunto presente na ordem do dia, um, porque a resposta não é óbvia, dois, porque o homem (e a mulher também, creiam!) globalizado(a), pós-moderno, tem outras coisas mais atraentes para pensar, coisas do tipo "enriquecer antes dos trinta, ser jovem para sempre e gozar de alto prestígio social - (cinismo) porque não adianta ter os dois primeiros se ninguém souber disso (/cinismo).
Pretensamente, eu tenho uma resposta para esse questionamento, esse aí que busca a razão do exixtir: eu existo porque alguém assim desejou. Mamãe.
Era uma vez uma menininha que, assim como a maioria de seu tempo, queria ser mãe. Desde muito cedo, a vontade era tanta que ela já havia até escolhido o nome do ser que viria ao mundo quando ela fosse uma mulher adulta, o meu nome. Um nome masculino, era um menino que ela desejava, um menino ela teve.
Retomo o início do texto e pergunto: o que é real? A primeira coisa que me vem à cabeça é "amor de mãe". Amor de mãe é supremo, inesgotável, nobre e, sobretudo, incondicional. Mãe é o único ser que ama sem condições, sem ressalvas; não é como o amor entre homem e mulher, amor conjugal que funciona sob condições pré-determinadas, pontuado por "se´s" - "eu te amo SE tu me amares, SE tu te sacrificares, SE tu fizer isso, SE tu me fores fiel", e por aí vai; como disse antes, o amor materno extrapola qualquer condição, qualquer pré-requisito (com hífen ou não); mãe ama, ponto. Imagino que a maioria deles, a certeza absoluta só se aplica ao meu caso.
A maternidade é bela também para os seres irracionais, aqueles que o ser humano classificou como "abaixo" dele, uma vez que o topo, o ápice da existência, é ele mesmo. Tente tocar ou aproximar-se, simplesmente, de um animal que tenha dado cria recentemente e terão uma amostra do que é capaz uma mãe para proteger sua prole. Por mais dócil que o animal seja, ele é capaz de tudo para que nada aconteça aos seus, sejam eles gatos, cachorros, quero-queros (bravos defensores de seus ninhos rasteiros) ou qualquer espécie que voe, rasteje, coma pasto ou sei lá o quê mais.
Mãe é nobre. Sobretudo aquelas mães que tiveram de criar os filhos por si sós, trabalhando por dois, preocupando-se por dois, amando por dois, educando por dois, tudo multiplicado por dois; mães como a minha. A chamada "falência paterna"; o ser humano nomeia tudo quanto puder, seres, atos, normas, cargos... claro que esse tipo de coisa tinha que ter um nome também. Um dia o papai foi embora. A mamãe ficou! E o que seria de nós se ela não tivesse ficado? Alguns pais foram levados pela guerra, outros por desastres - naturais ou não - e outros, simplesmente assim, decidiram partir. A antiga questão da falha de caráter do bom e velho ser humano. Tudo isso é nada se comparado à bravura mater; mesmo assim, elas saíram, caçaram e retornaram aos seus ninhos, às suas tocas com comida para suas crias; os machos fugiram com o rabo entre as pernas.
E o que mais eu posso falar do único ser capaz de alimentar outro que veio ao mundo por seu intermédio? Creio que já me fiz entender.
Mamãe: amanhã é teu aniversário. Espero que estas palavras façam com que tu sintas todo o amor que eu tenho por ti, ou pelo menos parte dele, porque é algo tão complexo que não pode ser expresso por papel e caneta. O único sentimento tão real quanto o amor de mãe é o que eu sinto por ser teu filho. Feliz aniversário, te amo!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Enquanto isso, nas páginas de um famoso site de relacionamentos na internet...

Falei da revolução tecnológica no post anterior. Dentre tantas bugigangas eletrônicas que pontuam nossa existência está, digamos, a mais significativa delas: o computador. Graças a ele eu posso expressar minhas idéias neste espaço. Agora, chegarei ao ponto. É através do computador que se pode acessar "sites de relacionamento na internet" - como a midia televisiva propõe. Desde aquele mais famoso - sim, esse mesmo - até aqueles menos populares, uns dois ou três. Nesse tipo de site, as pessoas "preenchem uma ficha" que representa a extensão de suas personalidades: é possível mostrar como se é bonito através de fotos; também pode-se tornar publico o posicionamento ideológico perante certos assuntos - ou a falta de tal posicionamento, muito recorrente. Também é possível declarar para os "amigos" o quanto se gosta deles. Imagino que o contrário, embora possível, não ocorra com tanta freqüência (ou nenhuma freqüência) como no primeiro caso. Em um primeiro momento esse tipo de site é muito interessante: permite a comunicação rápida, a divulgação de trabalhos, de idéias, é possível conhecer pessoas distantes, o que não ocorria antes da revolução tecnológica: graças ao tal site esse, pude encontrar o senhor Sérgio Dias. Quem? Guitarrista dos Mutantes. Quem? Esse. Muito bom saber aquelas coisas pelas quais só fãs malucos se interessam - com que guitarra tu gravaste os discos? Os amps eram todos feitos pelo teu irmão, Cláudio César? - e por ae vai. Graças ao famigerado site de relacionamentos na internet. Meu problema com esse tipo de site é o seguinte: acho uma grande tolice usar uma ferramenta como essa a serviço do ego. Nesse site - sim, o mais famoso, esse mesmo - todos são bonitos, ninguém tem preconceitos, defeitos? Capaz! A vida é uma festa. Lá é possível exibir-se, "pavonear-se", exaltar a própria imagem: I love me. Muita gente exibe fotos nas quais aparecem bebendo: "vejam! Eu bebo! Que legal que eu sou, né? Afinal, neste "país", o álcool é uma entidade integradora, socializante. Diga que não consome álcool e choque as pessoas: soa, praticamente, como "eu não tomo banho". Choca. Se eu não for bonitão, caso me encontre distante dos padrões de beleza vigentes, muito cuidado: é preciso ser sábio na escolha das imagens, afinal, não são todos os ângulos que privilegiam minha beleza. Agora, se a natureza tiver sido generosa, aí sim, sai da frente! Seqüências intermináveis de fotos de mim mesmo (a), mostrando tudo e mais um pouco - a imensa maioria no banheiro, onde há um espelho que ajuda na hora da autopropaganda - tudo o que Deus me deu! Fazendo biquinho, sinal de paz e amor - muito em voga - mostrando as curvas, calça de cinturinha baixa (no caso delas) e os músculos no caso deles. Meu primo, por exemplo, passa horas diante do computador vendo as fotos das amigas virtuais. Não apenas ele, que tem apenas 15 anos, mas muito barbado, da mesma maneira. Agora, chegarei à cereja do bolo: aquele espaço destinado para que os usuários falem de si próprios. Como mencionei acima, ninguem tem defeitos, não é? "Ah, dificil falar de mim... sou uma pessoa tranqüila, companheira, adoro meus amigos e familia... bla, bla, bla...". Isso vai de encontro aquelas perguntinhas "de onde vim, para onde vou?", de cunho existencialista. Resumindo: a questão sobre o sentido da vida foi abolida, uma vez que é muito fácil - aparentemente - definir o nosso ser. Respeito muito aquelas pessoas que escrevem coisas como "sei lá", ou "descubra você mesmo". Isso é honestidade. Raramente se vê - eu não lembro se já vi- alguém falar dos próprios defeitos. Todo mundo é belo, compreensivo e de bem com a vida. Finalmente, há a questão da autoafirmação: não basta ser, é preciso MOSTRAR que se é! Já ouvi isso de uma pessoa bastante próxima e não foi muito agradável ("não tem graça se os outros não vêem"). Ilustrando minha afirmação, cito o exemplo de sujeitos que se dizem músicos. Cidadão vai lá, adquire uma guitarra asiática, um amplificador nacional de qualidade duvidosa, aprende alguns acordes, monta uma banda com os amigos, toca em um lugar qualquer também para os amigos e, de repente, "é músico". Tá fácil, hein cidadão? É músico, oras: o cara aparece ali empunhando um instrumento, num lugar qualquer e pronto. Antigamente o buraco era mais embaixo. Hoje, basta ter uma conexão com a internet e pronto, dê asas à imaginação. Quem é que vai dizer que o cara não é músico, se ele aparece ali como tal, se autointitula músico, dá "pitacos" sobre música - sim, porque o discurso é maravilhoso: gratuito e passivo - e quem é que vai dizer que o cara NÃO é músico? Eu? Não, a não ser que eu queira arranjar encrenca com o sujeito. Enfim, é isso. Acho que a questão não é "satanizar" esse tipo de site, afinal, também possuo um perfil nesse mais "famosinho", mas sim questionar o uso que se faz desses recursos. Desses e de muitos outros que estão aí e que, em tese, deveriam facilitar nosso dia a dia. Chega que tá na hora do almoço.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Fim de ano, fim da década, fim do mundo... Fim da prolixidade? Não!

Dez! Nove! Oito! Sete, seis; cinco. Quatro? Três... dois, 1: mais um. Ano chega. Ano vai. Parece que foi ontem, o tão esperado ano dois mil, dez anos distante do agora, cheio de esperanças, véspera da virada de século - século vinte um, aqui estamos. Não se trata apenas do fim desse período de 365 dias, ou 8760 horas, ou ainda 14600 (terei calculado corretamente?) segundos, enfim, o tal de ano, esse... é a véspera do fim da década. Sei lá, quando se diz: "os Beatles revolucionaram o mundo na década de 60", parece que uma década, embora possua apenas dez unidades "ano", durava muito mais, demorava muito mais a passar do que nos dias presentes. Que estranho, né? Uma década ainda "vale" dez anos, os anos ainda tem 365 dias, mas parece que o tempo passa muito mais rápido. Mais uma vez, entro nesta questão: a percepção da passagem do tempo, a falta de tempo pra fazer qualquer coisa, a correria, o que seja, uma vez que tudo isso está interligado. Muitas cenas marcantes nessa década: revolução feminina, guerra do vietnã, o verão que não acabou em 1967 - hippies, cara... paz e amor, Haight Ashbury, San Francisco - os Beatles começando e "acabando", enfim; parecia que esses acontecimentos "duravam" por algum tempo - a tal década que parecia imensa, pelo menos. E, de dois mil pra cá, nossa! Parece que foi ontem! Chegou o celular... se não me falha a memória, caiu nas graças do povo na metade de 99 ou inicio de 2000. Pra não ser redundante nesse assunto da passagem do tempo, basta perguntar como era a vida antes e depois da chegada do celular. Passou rápido essa década, e o que mudou? Muita coisa! Pra melhor? Dificilmente. Crack, tsunami, 11 de setembro, iraque, avião da Tam e por aí vai. Querido ser humano. antes parece que a coisa ia de um em um. Agora parece que vai de dez em dez. Dois mil e dez é quase onze, é quase outra década., mais uma na conta. Minha existência totaliza quase duas décadas e meia. Na metade deste ano, possuirei um quarto de século, e o que é que eu vou fazer? Não são planos para um ano, são planos para uma década, já que um ano está para uma moeda de dez centavos assim como uma década está para uma moeda de um real - filosofia barata.

Resumo do primeiro post do ano, justificativa e uma esperança nesta nova década: recebi um "elogio" em forma de crítica de uma professora, aliás, uma querida professora: "... teus períodos lembram-me os de Rui Barbosa: muito longos!". Tô bem, não acham? Li um trecho do senhor Barbosa dia desses e não deu outra: me senti em casa. Resumo do post, curto e grosso: a revolução tecnológica acelerou nossas vidas e agora parece tão difícil perceber a realidade devido ao bombardeio (inútil) de informações que nos toma de assalto diariamente. Putz, falhei. Segue imenso. Tenho uma década, dez anos, ou um ano de cada vez, dependendo do ponto de vista, pra aprender a ser menos prolixo, menos "Rui". Que em doismiledez eu seja menos prolixo - não apenas no que se refere ao texto, mas também à existência (ó.) pontofinal

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Uma breve visita à "cinquentésima" quinta Feira do Livro de Porto Alegre

Todo o mês de outubro é deveras agradável. Pelo feriado? Não, pela Feira do Livro de Porto Alegre. Todo o fim-de-ano tem-se a garantia de que a leitura nas férias será proveitosa. Além disso, a Praça da Alfândega se torna muito mais agradável com a presença da feira - convenhamos: a reputação da praça tem decaído. Quando se começa a andar por aqueles corredores, de banca em banca, prestando atenção aos livros, é inevitável que se perca a orientação: já passei por aqui? Os nomes das bancas me dizem as respostas, nunca presto atenção às indicações dos corredores; livros. Só vejo livros. No pensamento? Algum título que me atraia; na minha frente, muitos! Todos os tamanhos, cores, formatos, etcetera. Alguns acabam despetando o interesse pelo tema em si - gosto é gosto, né? - porém outros se destacam pelos títulos, no mínimo, curiosos: Como sobreviver a 2012? Essa temática é a pedida do ano, já que vai sair a megaprodução enlatada estadunidense (eu presumo); Por que os homens amam as mulheres poderosas? Essa eu realmente n sei. Amam? Um leão por dia, da Vera Fischer; (ironia) deve ser interessantíssimo esse (/ironia); Guia prático do Português correto: sem cometários; Os mortos nos observam tomando banho? Mais uma pergunta infame; também não sei a resposta; Como fazer amigos e influenciar pessoas; deve ter vendido bem esse; Dicionário Lula, um dicionario dedicado ao léxico do nosso presidente; não imagino que tenha vendido muito, já que tá na moda falar mal do Luís Inácio, não é mesmo? Quem pensa, enriquece, simples assim; finalmente, Sexo para mulheres casadas, afinal, elas merecem, não é? Esses são alguns dos títulos que mais me atraíram e que eu não comprei. Quanto aos que comprei, ah! Como não notar aquele exemplar de capa preta, com o senhor Jimmy Page e sua Danelectro na capa? Led Zeppelin: quando os gigantes andavam sobre a terra, de Mick Wall: a mais completa e detalhada história do chumbão, segundo a crítica, trabalho de anos, 527 páginas, irresistível para um fã; John Lennon, a vida, de Philip Norman. Mais uma novidade e mais uma biografia do John, completíssima - supostamente - 839 páginas; Cuentos memorables según Jorge Luis Borges, coletânea dos contos favoritos do escritor porteño, incluindo algumas traduções dele mesmo (incluindo Edgar A. Poe e Guy de Maupassant); fui picado pelo mosquito Borgeano, não tem mais volta; e fechando o fardo, um saldinho né? Paraísos Artificiais - o Ópio e Poema ao Haxixe, de Charles Baudelaire - por 7 reais, hein? Que maravilha. Nessas horas não ha como não ser decladaramente consumista. Como a grana é pouca - e o tempo também - o investimento tem de ser planejado com cuidado. Imagino que com esses exemplares eu tenha um pouco de tranquilidade garantida por um tempo.
Agora falando do que eu não gostei na feira. Despreparo do pessoal da maioria das bancas. Isso não é novidade, não é? A incompetência se mostra presente em todo o lado, praticamente, não apenas na feira. Perguntei muitas vezes se havia - por algum acaso, por que não? - A invenção da Modernidade, do Baudelaire. Muitos me respondiam que não instantaneamente: ou é muito procurado, havia muitos exemplares e vendeu-se tudo antes da minha chegada, ou a pessoa não fazia a mínima idéia do que eu estava falando, (ironia) de repente falei em outra língua (/ironia). Não éculpa deles não ter o livro que eu procuro, porém pecam na hora do atendimento, quando não mostram interesse "pelo meu interesse". Estamos na era da informação, vivemos cercados de bugigangas que nos permitem o acúmulo e a transmissão de informações: será que nesses tempos não há um banco de dados - um maldito computador, falando sem rodeios - que possa ser consultado? Como é que o cidadão ali lida com as vendas? Com o estoque? Usa uma caderneta? Acho que em UMA banca tinha um laptop. Nas outras eu não vi, de repente houvesse mais. Parece que as pessoas estão lá vendendo peixe, ou qualquer outra coisa... "o peixe tá aí, é pegar ou largar... o quilo custa tanto". Não achei o tal livro. Mas perguntei, ô se perguntei. Pelo menos dei sorte e achei aquele no saldo, comprei na banca do cara do Beco dos Livros, ali da General Câmara, se não me engano - o sujeito tem a base do negócio!
Além das novas aquisições e dos títulos jocosos, a feira me proporcionou descanso, embora tenha chego ao fim da tarde e andado sem parar pelos corredores, me desliguei um pouco da vida real, das pressões, dos cronogramas, das frustrações cotidianas, do cansaço; a feira do livro é terápica, é um mundo de possibilidades, sendo bem lugar-comum, que faz a gente esquecer a correria. Ano que vem tem mais. Esperemos, pois.

domingo, 13 de setembro de 2009

Crianças, alguém pode me dizer o que é um sarau?

Noite passada fui a um sarau organizado por um amigo. Nada como um sarauzito pra frear esse "trem", como diria o mineiro, chamado pós-modernidade. Algumas horas para esquecer o corre-corre diário, o bronca do chefe, as responsabilidades atrasadas, enfim. Algumas horas viajando pela poesia, pela música ou pelos semblantes das belas jovens lá presentes - poucas, é vero, "pero peor es nada". Tudo isso que eu acabo de descrever funciona. Em teoria. Chego lá e o que encontro? Casa cheia. Após uns minutos de preparação, finalmente, começa o evento. Três pessoas recitando poemas de diversos autores - dentre os quais estão incluídos os de autoria do organizador bem como de seus convidados - e um músico "fazendo uma cama", como se dis no jargão musical, proporcionando uma trilha sonora para o momento. Deveras agradável. Ah! E como esquecer da menina recitando Baudelaire em seu idioma original, Français? Agradabilíssimo. Agora começa o pior: se em cima do palco tudo vai muito bem obrigado, na platéia nem tudo. Aqui começa a crítica (adoro esse momento). As pessoas não estão acostumadas a ouvir. Embora o o público tivesse colaborado no início do ato, prestando atenção e (tentando) fazer silêncio, praticamente da metade pra frente a coisa desandou. Foi como me disse depois o ilustre anfitrião "as pessoas não conhecem a cultura do ouvir" (se não foi literalmente isso, tomo a liberdade proporcionada pela paráfrase e expresso apenas o sentido da afirmação). ão sabem ouvir mesmo. E parecem não querer saber, o que e pior. Vai ver eles não acham graça na metáfora - ou não a entendem. Em poucos minutos nota-se o clima dissonante entre palco e platéia; de repente, num lapso de indignação me obrigo a pedir ao sujeito que não parava de tagarelar que baixe o volume de sua desagradável voz. Não surtiu muito efeito o meu pedido (não verbal, diga-se de passagem, apenas me virei e fiz sinal com minha mão, movimentando-a continuamente para cima e para baixo) . E assim foi. Um duelo. Deduzo que mais da metade desconhece o que é um sarau, para que serve um sarau (já que a lógica instrumental tá na moda). Me entristece a falta de respeito das pessoas, o descaso para com o outro, a ignorância instituída que impede que prestem atenção a algo que desconhecem. Desconhecem, ignoram - e desdenham. Típicos tolos. E no fim das contas o que acontece? Tudo vira boteco. Com sarau ou sem sarau, mas com boteco.


Moral da história: "Mouros 3, cristãos 0."