segunda-feira, 1 de março de 2010

Amor de mãe

Versão digital do texto escrito de próprio punho pra minha mãe.


O ser humano é o único ser que tem capacidade de refletir sobre a realidade, sobre a própria existência. "O que é real? Como percebemos a realidade ou irrealidade das coisas que nos cercam?", e os questionamentos não param por aí: "qual o sentido da vida?" - imagino que essa indagação "atesta" nosso estado de "ser humano", uma vez que as outras espécies não fazem o mesmo.
O tal "sentido da vida" parece não ser um assunto presente na ordem do dia, um, porque a resposta não é óbvia, dois, porque o homem (e a mulher também, creiam!) globalizado(a), pós-moderno, tem outras coisas mais atraentes para pensar, coisas do tipo "enriquecer antes dos trinta, ser jovem para sempre e gozar de alto prestígio social - (cinismo) porque não adianta ter os dois primeiros se ninguém souber disso (/cinismo).
Pretensamente, eu tenho uma resposta para esse questionamento, esse aí que busca a razão do exixtir: eu existo porque alguém assim desejou. Mamãe.
Era uma vez uma menininha que, assim como a maioria de seu tempo, queria ser mãe. Desde muito cedo, a vontade era tanta que ela já havia até escolhido o nome do ser que viria ao mundo quando ela fosse uma mulher adulta, o meu nome. Um nome masculino, era um menino que ela desejava, um menino ela teve.
Retomo o início do texto e pergunto: o que é real? A primeira coisa que me vem à cabeça é "amor de mãe". Amor de mãe é supremo, inesgotável, nobre e, sobretudo, incondicional. Mãe é o único ser que ama sem condições, sem ressalvas; não é como o amor entre homem e mulher, amor conjugal que funciona sob condições pré-determinadas, pontuado por "se´s" - "eu te amo SE tu me amares, SE tu te sacrificares, SE tu fizer isso, SE tu me fores fiel", e por aí vai; como disse antes, o amor materno extrapola qualquer condição, qualquer pré-requisito (com hífen ou não); mãe ama, ponto. Imagino que a maioria deles, a certeza absoluta só se aplica ao meu caso.
A maternidade é bela também para os seres irracionais, aqueles que o ser humano classificou como "abaixo" dele, uma vez que o topo, o ápice da existência, é ele mesmo. Tente tocar ou aproximar-se, simplesmente, de um animal que tenha dado cria recentemente e terão uma amostra do que é capaz uma mãe para proteger sua prole. Por mais dócil que o animal seja, ele é capaz de tudo para que nada aconteça aos seus, sejam eles gatos, cachorros, quero-queros (bravos defensores de seus ninhos rasteiros) ou qualquer espécie que voe, rasteje, coma pasto ou sei lá o quê mais.
Mãe é nobre. Sobretudo aquelas mães que tiveram de criar os filhos por si sós, trabalhando por dois, preocupando-se por dois, amando por dois, educando por dois, tudo multiplicado por dois; mães como a minha. A chamada "falência paterna"; o ser humano nomeia tudo quanto puder, seres, atos, normas, cargos... claro que esse tipo de coisa tinha que ter um nome também. Um dia o papai foi embora. A mamãe ficou! E o que seria de nós se ela não tivesse ficado? Alguns pais foram levados pela guerra, outros por desastres - naturais ou não - e outros, simplesmente assim, decidiram partir. A antiga questão da falha de caráter do bom e velho ser humano. Tudo isso é nada se comparado à bravura mater; mesmo assim, elas saíram, caçaram e retornaram aos seus ninhos, às suas tocas com comida para suas crias; os machos fugiram com o rabo entre as pernas.
E o que mais eu posso falar do único ser capaz de alimentar outro que veio ao mundo por seu intermédio? Creio que já me fiz entender.
Mamãe: amanhã é teu aniversário. Espero que estas palavras façam com que tu sintas todo o amor que eu tenho por ti, ou pelo menos parte dele, porque é algo tão complexo que não pode ser expresso por papel e caneta. O único sentimento tão real quanto o amor de mãe é o que eu sinto por ser teu filho. Feliz aniversário, te amo!

3 comentários:

Suellen Roth disse...

John!
Me emocionei com seu texto.
Eu levei um pouco mais de tempo que vc para entender esse tal "amor de mãe".
Precisei ser mãe para entender que mesmo quando erram com os filhos, as mães o fazem tentando fazer aquilo que consideram o melhor possivel, sempre com as melhores intenções para com suas crias.
Colocar as vontades dos filho acima dos próprios interesses deve ser algo importante para a sobrevivência da espécie de alguma forma.!

E muitas felicidades para a sua mãe!!=)

Suellen

C. disse...

No início do texto eu não achei que fosse esse o fim. Que feliz que eu fiquei!
Lindo o que tu escreveu. Tua mãe deve ter amado.
Um viva pra tua mamãe!

=***

Tiago Gonçalves disse...

Que bom que voce tem uma historia bacana com sua mãe. A minha nunca deu a minima pra mim, nem durante meu tratamento contra o cancer, mas tenho o melhor pai do mundo. Minha opinião é que esse Amor não surge de mãe, não surge de pai, surge de alguém que toma para si a responsabilidade de ter voce debaixo da asa.